Voçorocas ameaçam dividir ao meio cidade de Buriticupu no Maranhão

Vinte e seis crateras gigantes avançam sobre a cidade no interior do estado.

No Nordeste do Brasil, crateras ameaçam uma cidade do Maranhão.

Da janela do quintal de casa, a aposentada Maria Zilda da Conceição Viana acompanha o trabalho das máquinas. Esperançosa, mas ao mesmo tempo, com um pé atrás.

"Se o trabalho não der de terminar, vai ser perigoso eu não entrar", diz.

O que preocupa Zilda é a obra de contenção de uma das 26 crateras gigantes que avançam sobre a cidade de Buriticupu, no interior do Maranhão. As chamadas voçorocas foram abertas depois da passagem da água da chuva pelo solo arenoso, sem proteção da vegetação. Os buracos na cidade começaram a surgir há mais de 30 anos. As voçorocas já causaram sete mortes em acidente e engoliram cerca de 70 casas.

Uma ameaçava interditar uma estrada de acesso a quatro comunidades. A prefeitura está aterrando a cratera. Mas especialistas afirmam que o efeito pode não ser o esperado e que outras obras são necessárias.

"Teria que ser feita a instalação de manilhas, com uma boca de lobo para coleta de todo resíduo fluvial vindos das ruas para que sejam escoado na parte inferior”, afirma o engenheiro Fabson Coelho.

"Nós temos um solo que é frágil e que, para toda obra de engenharia ter uma eficácia, o ângulo de estabilidade do solo precisa ser respeitado. Aqui, o que a gente vê é que o solo está muito inclinado. A água vai adquirir uma força maior nesse momento e desenvolver novos processos erosivos”, explica Marcelino Farias, professor doutor em Ciência do Solo.

Enquanto isso, as outras 25 voçorocas continuam avançando sobre a cidade, desabrigando e ameaçando famílias. A casa onde a lavradora Daniela da Silva mora foi condenada pela Defesa Civil porque está a 25 metros de uma cratera. Ela não sabe o que fazer.

"Sinto-me vulnerável. Ninguém quer ajudar, só aguardar aqui e correr risco de cair no buraco”, diz.

Atualmente, mais de 300 famílias vivem em áreas afetadas por voçorocas, à espera de um socorro. Além disso, há pessoas que deixaram suas casas e nunca receberam nenhum tipo de benefício, nem mesmo constam no cadastro da prefeitura - principalmente aquelas atingidas pelas crateras há três, quatro anos.

É o caso da aposentada Cleunice Pereira dos Santos. A casa dela era essa pendurada à beira do abismo. Há cinco anos, ela teve que sair.

"Eu tinha uma esperança de que eles iam reorganizar essa erosão e eu ia voltar para minha casa, eu ia construir ela de novo. Mas, essa esperança acabou", conta.

O Ministério da Integração Regional afirmou que repassou, em fevereiro, R$ 3,3 milhões para a Prefeitura de Buriticupu construir 89 casas para os atingidos pela erosão e que vai liberar mais R$ 7,8 milhões após a entrega das primeiras unidades.

A Prefeitura de Buriticupu declarou que 27 casas já estão em fase de finalização e que todas as famílias identificadas pela Defesa Civil estão sendo devidamente assistidas, que a contenção em andamento é uma das ações custeada pelo município e que, após ajustar o terreno, serão realizadas as obras de drenagem e o plantio de vegetação.