Após protestos, ministro desiste de extinguir secretaria de saúde indígena
Decisão ocorreu após reunião com lideranças indígenas nesta quinta-feira.
Os indígenas bloquearam a BR-316 durante dois dias com galhos de árvores em manifestação no Maranhão. |
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, recuou nesta
quinta-feira (28) da decisão de extinguir a Sesai (secretaria especial de saúde
indígena). A decisão ocorre após protestos em diferentes pontos do país.
O ministério
organiza uma reestruturação na pasta. A ideia era extinguir a secretaria criada
em 2010 e transformá-la em um departamento dentro de outra secretaria que deve
ser criada nos próximos dias, dedicada à atenção básica.
Atualmente, a Sesai coordena 34 Dseis (distritos sanitários
indígenas) e outras estruturas, as quais respondem pelo cuidado de 765 mil
índios de 305 etnias espalhadas pelo país.
Em vídeo divulgado por meio das redes sociais, Mandetta diz
que a decisão foi tomada após reunião com lideranças indígenas.
"O ministério achava que deveria somar na nova
secretaria nacional de atenção básica a indígena. Como os indígenas achavam que
a secretaria de saúde indígena deveria permanecer, porque isso é uma luta
histórica, porque isso é simbólico e ali se reforça sua cultura e identidade,
nós vamos manter a secretaria", disse.
Desde segunda-feira (25), milhares de índios realizavam protestos em todo o país contra a extinção da Sesai. No município de Bom Jardim, no interior do Maranhão, os indígenas bloqueram o km 250 da BR-316, a manifestação ocorreu durante dois dias.
Apesar do recuo em relação à extinção da Sesai, Mandetta diz
em vídeo que o grupo de trabalho que analisa mudanças na saúde indígena está
mantido.
Entre as propostas em análise nos últimos meses, estava uma
revisão no contrato com ONGs e a possibilidade de repassar parte do atendimento
a estados e municípios, o que trouxe preocupação entre representantes de
conselhos de saúde indígena. O temor é que nem todos os municípios tenham
estrutura para assumir essas funções, o que geraria desassistência.
Lideranças indígenas e entidades também apontam outros
problemas que já foram enfrentados com a municipalização do atendimento no
passado, como a distância de unidades de saúde, a constante troca de equipes a
cada mudança de prefeitos e a falta de preparo dos trabalhadores para lidar com
as necessidades de saúde e características dessas populações.
“Não é no município que a diversidade no atendimento será
assegurada. O nosso modelo foi construído com princípios e diretrizes que
garantem o respeito a diversidade dos povos e territórios indígenas”, informou
a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), em nota.
Segundo o secretário de saúde indígena, Marco Antônio
Toccolini, a ideia agora é apresentar uma proposta que aumente a participação
de estados e municípios, mas mantendo a gestão sob controle federal.
"Estamos estudando várias propostas de modelo de gestão
e de contratação de mão de obra", diz ele, para quem houve avanço nas
discussões nas últimas semanas. "A nossa ideia é ter parceria com estados
e municípios, mas não repassar. Como esse modelo vai acontecer, é que estamos
estudando. Mas a gestão será sempre federal. A municipalização está
descartada", afirmou à Folha.
CRISE
Além da recente ameaça de extinção da Sesai, o atendimento
na saúde indígena também tem sido alvo de outras crises. Nos últimos dias,
houve atraso no pagamento de 13 mil funcionários e de fornecedores, chegando a
inviabilizar o funcionamento de unidades de saúde.
Além disso, vários Distritos Sanitários Especiais
Indígenas (DSEIs) ficaram com poucos ou nenhum médico após a saída dos cubanos
que atuavam no programa Mais Médicos em novembro do ano passado. Questionado, o
Ministério da Saúde afirma que o pagamento já foi autorizado e está sendo
regularizado. As vagas do Mais Médicos também foram preenchidas e estão sendo
repostas.
Fonte: Folha de São Paulo
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