Ex-prefeita de Bom Jardim é denunciada por dispensa ilegal de licitação
Malrinete Gralhada infringiu a Lei de Licitações com claro interesse de beneficiar a empresa do marido da chefe de gabinete da ex-gestora.
O Ministério Público do Maranhão ofereceu Denúncia, em 17 de
outubro, contra a ex-prefeita de Bom Jardim, Malrinete dos Santos Matos, mais
conhecida como Malrinete Gralhada, e Willian das Mercês Lopes, proprietário da
empresa beneficiada pela dispensa irregular de licitação no valor de R$
100.721,22, para aquisição de peças para veículos automotores.
O denunciado era, em novembro de 2015, época da assinatura
do contrato, companheiro de Gilvana Lopes Araújo, chefe de gabinete civil da
Prefeitura de Bom Jardim.
Por meio da dispensa, foi contratada a empresa W. das M.
Lopes Rosa ME. A contratação foi baseada no Decreto Emergencial nº 06/2015,
elaborado por Malrinete Gralhada. No ano de 2015, a ex-prefeita Lidiane
Leite foi afastada das suas funções por fraudes em licitações públicas e teve
decretada a perda de seu cargo eletivo.
Segundo o promotor de justiça Fábio Santos de Oliveira, o
valor é exorbitante considerando a ínfima quantidade de veículos em uso no
período da licitação. “Quando o atual prefeito de Bom Jardim assumiu o mandato,
após a gestão de Malrinete, apenas um veículo micro-ônibus estava funcionando.
É evidente que as autopeças, mesmo que adquiridas, não tiveram como destino
final o reparo dos veículos municipais”, afirmou.
Na avaliação do MPMA, nos 75 dias que transcorreram entre a
posse de Malrinete e a celebração do contrato, seria possível efetuar
regularmente qualquer uma das modalidades de licitação, de acordo com a Lei nº
8.666/93, que variam de cinco dias úteis (convite), 15 dias (tomada de preços),
30 dias (concorrência e tomada de preços) e 45 dias (concurso e concorrência).
“Mesmo que se adotasse a modalidade mais complexa da
licitação, ainda assim, a Administração Municipal teria tempo suficiente para
promover outro procedimento para contratar uma empresa que fornecesse os
produtos contratados”, afirmou, na Denúncia, Oliveira.
Ao avaliarem os documentos da dispensa de licitação, os
peritos da Assessoria Técnica da Procuradoria Geral de Justiça constataram as
seguintes irregularidades: não existe justificativa para dispensa; ausência de
informação do saldo da dotação orçamentária; a publicidade exigida por lei não
foi atendida; contratou-se a empresa sem realizar uma pesquisa de preços
prévia, com, no mínimo, três propostas, o que demonstra o nítido interesse de
beneficiar a empresa do marido da chefe de gabinete da ex-gestora; ausência de
indicação de recursos para cobrir despesas oriundas da contratação ilegal; não
houve designação de representante da administração para acompanhar, fiscalizar
a execução do contrato.
Apesar de apenas um veículo pertencente ao Município de Bom
Jardim, em apenas 45 dias, a Prefeitura adquiriu R$ 68.196,34 em peças, valor
suficiente para adquirir um novo veículo. Também foram adquiridas 34 baterias,
variando de 45 a
150 amperes, cujo valor unitário de cada uma vai de R$ 285 a 720. “Como seria
possível apenas um veículo precisar de 34 baterias, no período de 45 dias,
sendo que a vida útil de cada bateria é de um ano e seis meses?”, questionou o
promotor de justiça Fábio Oliveira.
Além disso, os preços das peças estão acimas dos valores de
mercado, pois mesmo passados três anos, ainda é possível adquirir baterias com
as mesmas amperagens constantes na nota fiscal por preço muito inferior. A de
45 amperes no site da empresa Ponto Frio, na data de 16 de junho deste ano,
estava avaliada em R$ 251,90.
Outra irregularidade classificada como mais “gritante” pelo
representante ministerial foi comprovada pelo fornecimento de R$ 19.498,69 em
peças automotivas, no dia 4 de novembro de 2015, e o extrato de publicação do
contrato foi assinado em 16 de novembro do mesmo ano. “Além de celebrar um
inidôneo contrato de dispensa de licitação, com o marido de uma assessora da
prefeita, ainda havia a emissão de notas fiscais de produtos supostamente
fornecidos à Prefeitura mesmo onze dias antes da assinatura do contrato”.
CRIMES
A prefeita e o empresário foram denunciados por infringirem
a Lei de Licitações nos artigos 89, 90, 91 e 95, os artigos 299 e 312 do Código
Penal, além do Decreto-Lei nº 201/67. Os crimes são caracterizados por
dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei; frustrar
ou fraudar o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o objetivo de
obter vantagem; patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante
a Administração; afastar ou procurar afastar licitante, por meio de violência,
grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo; falsidade
ideológica; peculato; e apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los,
em proveito próprio ou alheio.
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