Humilde história de Gleici antes do BBB é de pura superação
A jovem é uma das participantes mais queridas do BBB 18, tem uma história de vida comum a muitos brasileiros, cheia de dificuldades e lutas sem esmorecer.
A acreana Gleici Damasceno, 22 anos, chama a atenção do país
em sua participação no Big Brother Brasil 2018, que termina na próxima
quinta-feira, dia 19. Ao lado do sírio Kaysar, ela é uma das favoritas para
levar o prêmio de 1,5 milhão de reais.
Ela começou a trabalhar cedo
Gleici desde muito cedo assumiu responsabilidades. Como a
mãe, Vanuzia Damasceno, 39 anos, precisava passar o dia fora de casa
trabalhando como empregada doméstica, ela ficava responsável pelos afazeres do
lar. Por ser a mais velha entre as filhas mulheres, era ela quem preparava o
almoço. Arroz e ovo em muitos dias eram as únicas opções na mesa. Gleici também
ficava no pé dos irmãos para não deixarem de ir a escola. Ela é a filha do
meio. O mais velho é Agleuson da Silva, 24 anos, e Maria Luzia Damasceno, 18
anos, é a caçula.
Gleici desde muito cedo assumiu a responsabilidade de cuidar da familia. (Foto: reprodução). |
Danielle conhecia as dificuldades pelas quais Gleici e a mãe
passavam, mas nem por isso a hoje participante do BBB as usava para se colocar
como vítima. “Ela nunca usou essa situação em favor dela, para tentar se
aproveitar”, comenta Danielle.
No fundo da casa, o barro se misturava ao esgoto
Após muitas dificuldades, Vanuzia conseguiu alugar uma casa
e deixar de morar de favor em quartos cedidos por parentes ou pelo ex-patrão
nos fundos do quintal. Nesses espaços, os quatro precisavam se apertar e dormir
todos num mesmo colchão no chão. As adversidades persistiram. “A casa era de
madeira e tinha cada brecha, que quem passava na rua via tudo dentro”, lembra
Vanuzia, sem deixar de encarar com bom humor. Nos fundos havia um “gapó”, como
ela chama uma área encharcada onde também se misturava o esgoto. Para evitar o
desconforto, Gleici pediu para os trabalhadores, que faziam obras na rua em
frente de sua casa, para colocar um pouco de barro no quintal e, assim, aterrar
o charco. “Uma vez fui na casa dela e ela me convidou para entrar. E me disse:
‘Pode entrar, não liga para o barro. Pode limpar o pé por aí’”, diz John Sousa
Barbosa, 22 anos, amigo de bairro.
Sem dinheiro para o ônibus, andava 6 quilômetros para ir
a escola
John teve a ajuda de Gleici para organizar o movimento
hip-hop na Baixada da Sobral, região da periferia de Rio Branco, onde fica o
bairro de Gleici. Ele lembra que a jovem estudante nunca deixava transparecer
aos amigos as adversidades pelas quais passava. Ele conta que, por não ter o
dinheiro para a passagem do ônibus, Gleici precisava ir e voltar da escola a
pé, num percurso de quase 6
quilômetros . Quando começou a trabalhar como babá na
casa da sobrinha da ex-patroa de sua mãe, a distância duplicou, pois precisava
voltar para casa a fim de se arrumar e pegar o material.
As caminhadas para a escola eram mais desgastantes na
infância, já que seu único calçado eram as sandálias de borracha. Gleici via as
colegas de sala usando dois, três sapatos, calças, e ela só tinha uma calça e
ia de sandálias Havaianas. “Eu não tinha condições de comprar. Eu ganhava
pouco, tinha que pagar aluguel, luz”, recorda-se Vanuzia.
A mãe trabalhava em troca de comida e moradia
Houve época em que a mãe precisava trabalhar em troca de
teto e comida para os filhos. Para comprar a casa dentro do “gapó” pediu 5.000
reais emprestados a um tio, e teve de pagar juros de 500 reais por mês. “Eu
ganhava um salário mínimo. Quinhentos reais eram para pagar de juro e só me
restavam 150 reais”. Nesse período, Vanuzia pediu ajuda aos amigos da igreja
para receber donativos e “ter ao menos o que comer”. Como a própria Gleici
contou no BBB, havia dias em que ia para a escola sem ter comido nada. Segundo
a mãe, mesmo com tudo isso, a filha nunca perdeu o zelo pelos estudos.
A mãe teve câncer
Wylben Justino, 24 anos, é outro amigo próximo a Gleici e
confirma este perfil. “A gente sabia que ela passava por dificuldades, tinha
uma vida difícil, mas ela nunca deixava transparecer. Ela não gostava de expor
suas adversidades, ficava sempre calada. Se ela estava passando por algo ruim,
procurava resolver por ela própria”, afirma Justino. De acordo com ele, um dos
momentos mais difíceis para Gleici foi o tratamento da mãe contra um câncer no
útero. “Foi algo que a abateu muito.”
Vanuzia e Agleuson, mãe e irmão de Gleici, participante do ‘BBB |
O ganha-pão da família
Enquanto tinha um emprego — ela foi
exonerada ao entrar no reality show —, que lhe rendia um salário, Gleici o usava tanto para si quanto para ajudar a família.
Com o dinheiro, ela procurava
economizar. Com a mãe e os irmãos desempregados, ela era a única fonte de
renda. Apesar de trabalhar só meio período, ela passava o dia fora para não
precisar voltar para casa e depois ir para a faculdade, o que aumentaria o
desembolso com transporte. “Por isso Gleici já levava tudo na mochila, para
passar o dia fora e de lá ir pra aula”, revela Vanuzia. Gleici chegava em casa
todos os dias por volta das 23 horas. Como o ponto de ônibus fica distante, a
mãe ou o irmão iam buscá-la, para que não corresse o risco de ser assaltada na
rua de iluminação precária onde mora.
Amigos e vizinhos também dividem a mensalidade de uma
operadora de televisão, para que a família possa acompanhar o dia a dia da
filha no confinamento. O mesmo acontece com a banda larga. “Antes do programa,
a família da Gleici não tinha internet em casa”, explica Maikon Amorim, amigo
da estudante e responsável por suas redes sociais enquanto ela está no
confinamento.
Sem o salário de Gleici, família vive de doações
Desde que Gleici Damasceno entrou no Big Brother, sua
família, que vive na periferia da Baixada do Sobral, no Rio Branco, Acre, tem
contado com a boa vontade dos amigos e vizinhos para viver. A participante foi
exonerada de seu cargo público logo nos primeiros dias do reality, tirando da
família sua principal fonte de renda.
Agleuson (irmão) e Vanuzia (mãe) assistem à participação de Gleici no 'BBB 18' (Foto por: Odair Leal/VEJA.com). |
A rede de dados, no entanto, chega com uma velocidade tão
reduzida ao bairro onde vivem que deixou dona Vanuzia de fora das primeiras
edições do quadro Família BBB. “A produção do programa não conseguiu instalar a
câmera para gravar a reação dos parentes dos participantes diante dos
acontecimentos do reality show”, contou Maikon.
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