Bom Jardim e mais 216 municípios maranhenses têm problemas na Justiça
O movimento de magistrados Maranhão sem Corrupção já contabiliza quase 100 processos contra gestores públicos municipais.
Bom Jardim e mais 216 municípios do estado têm problemas na Justiça. |
Processos de improbidade administrativa são o que há de
comum entre todos os municípios do Maranhão. Alguns acumulam ainda atraso ou
fraude na prestação de contas, lesão ao erário, desvio de verbas, falsidade
ideológica, contratação de servidores sem concurso, fraude em licitações,
falta de comprovação de aplicação de recursos do Fundo Municipal de Saúde
(FMS), má aplicação dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb),
fragmentação de despesas e dispensa irregular de licitações.
Apenas no último ciclo eleitoral, mais de 74 prefeitos e
ex-prefeitos foram condenados pelo Tribunal de Justiça do Estado. Eles
respondem por mais de 80 crimes relacionados ao seu papel à frente da
administração pública dos municípios. Entretanto, a lista divulgada em
Janeiro, não incluía os exemplos mais famosos de escândalos envolvendo
prefeitos, e nem o recente afastamento de 180 dias, pela Câmara Municipal, da
prefeita de Governador Newton Bello, Leula Brandão, no último dia 6 de março.
Uma nova lista com cidades cujos prefeitos e ex-prefeitos
que responderão a processos por improbidade administrativa foi divulgada por
magistrados do movimento Maranhão sem Corrupção, e já contabiliza quase 100
processos contra gestores públicos municipais. Outros processos parados
atingem todas as prefeituras do estado, segundo o movimento.
Nenhuma das relações, entretanto, inclui nomes como o de
Lidiane Leite, ex-prefeita de Bom Jardim, Baldoíno e Richard Nixon, de Bacuri,
e Helder Lopes Aragão, de Anajatuba, por exemplo, a despeito da repercussão de
seus crimes, que direta ou indiretamente foram prejudiciais à administração
pública, e de terem sido afastados das prefeituras, ou terem o mandato
cassado ainda em 2015.
Cenário político
Os casos de prefeitos presos no Maranhão ganharam
repercussão nacional, e, segundo especialistas, servem como um retrato
preocupante da má administração pública no país. Para o cientista político
Hesaú Rômulo, o cenário comum à todos municípios de todo o Maranhão, é danoso
para o cenário político do estado, ao mesmo tempo em que prejudica a população
“Em uma democracia espera-se o poder seja alternado entre os representantes
eleitos, mas a necessidade de presença constante do judiciário interfere
diretamente no andamento de políticas públicas essenciais aos municípios. Nas
duas últimas décadas presenciamos um aumento relevante de investigações que
resultaram na conclusão de que os gestores estariam inaptos a governar”,
comentou.
O especialista aponta ainda que o número de casos
envolvendo prefeitos em exercício nos últimos anos abre espaço para questionar
como comportamentos semelhantes, em gestões mais antigas não foram
investigados. “Se, em um primeiro momento pode sinalizar uma vigilância maior
por parte do judiciário, e indicar que gestores públicos não estão imunes às
regras de conduta, ela abre uma interrogação sobre como os gestores públicos
mantiveram-se distantes de qualquer lei por tanto tempo”, indaga o cientista
político.
O juiz da Comarca de São Luís, Douglas Melo, conta que a
morosidade nos processos que agora estão sendo julgados se deu, entre outros
fatores, por envolverem gestores em exercício. “É muito complicado um processo
contra prefeitos. Eles têm muitos recursos, arrumam testemunhas de lugares
completamente diferentes de onde eram gestores. O sistema é feito para o
atraso”, comentou o juiz Douglas Melo, um dos líderes do movimento Maranhão
sem Corrupção. Melo ainda destacou que os juízes estão optando por não
afastar os gestores em exercício. “Apenas em casos que atinjam os direitos
humanos os prefeitos serão afastados”, disse.
Prisão a recém-empossado como vice-prefeito
Para a moradora da cidade, Larissa Sousa, a prisão do
vice-prefeito, que havia sido recém-empossado em substituição ao prefeito
afastado, foi uma surpresa na cidade. “A comunidade ficou chocada. Nixon era o
vice-prefeito e só estava no cargo de prefeito há um mês. Depois todo mundo
ficou bem revoltado, ele estava desviando dinheiro da educação. Hoje Bacuri é
uma cidade sem lei, não há segurança, a saúde está um caos”, comenta.
Para a vendedora, a cidade está ainda muito revoltada.
“Foram quatro anos entre idas e vindas de Nixon e Balduíno (José Baldoino da
Silva Nery, do PP, prefeito eleito e hoje à frente da administração pública).
A cidade coleciona processos judiciais contra os gestores, é vergonhoso”, diz.
Já em Bom Jardim, moradores contam que antes da prisão a
cidade já sabia e sofria muito com a administração pública, e que os desvios
de verba da merenda escolar eram de conhecimento público. “Não foi surpresa
para ninguém o que aconteceu. Hoje temos merenda escolar, mas na época todo
mundo sabia o que se passava. Logo que a prefeita Lidiane sumiu daqui a cidade
virou um caos, não se sabia o que iria acontecer”, relata o funcionário
municipal Ismael Melo.
Lidiane Leite responde, hoje em liberdade após ficar quase
40 dias foragida da polícia federal, a processo criminal por desvio de verbas,
fraude licitatória e associação criminosa durante gestão à frente da
Prefeitura de Bom Jardim.
Segundo o cientista político, o entra e sai de prefeitos e
vices inviabiliza o andamento de políticas públicas e prejudica a população,
mas a falta de punições gera um sentimento de impunidade e propicia a continuidade
em casos de corrupção. “O prefeito vai criando uma base de aliados e crédito
com vereadores. A coisa é diferente quando ele é afastado e o vice assume”,
comentou.
“Existe um fosso entre investigações que apontem
irregularidades e a efetivação destas condenações. Isto em si é uma questão
do próprio judiciário brasileiro que preconiza o foro privilegiado aos
prefeitos, tornando a questão sempre complexa e repleta de nuances. A lentidão
favorece o investigado, prejudica o andamento da agenda municipal e a
população sofre a cada nova atualização. A instabilidade política, mais uma
vez, gera uma descrença no poder efetivo das instituições sobre a vida dos
indivíduos”, analisa o pesquisador.
Prefeitos e ex-prefeitos foram condenados pelo Tribunal de
Justiça do Estado
Em Santa Inês, distante 246km de São Luís, moradores e
funcionários municipais, que não querem se identificar, relatam que os
prejuízos para a cidade durante o processo de prisão e soltura do prefeito
Ribamar Alves (PSB), preso sob acusação de estupro, apenas agravaram uma
situação já antiga no município, como o descaso com a saúde e com a educação.
“Ficamos sem coleta de lixo por semanas, os salários dos
servidores estão atrasados já há três meses. Em cada esquina era um boato
quando o prefeito foi preso. Não sabíamos muito bem o que estava acontecendo e
como ia ficar a cidade. Agora com a volta dele (Ribamar Alves) vários
funcionários estão sendo demitidos da prefeitura”, contam.
“Não entendemos quando o prefeito diz que o vice desorganizou
toda a cidade. Já estava tudo bagunçado, não temos nada. Há escolas que o ano
letivo não começou. Na escola Edimilson Gonçalves a diretora pediu que os
zeladores ‘esquecessem’ os salários atrasados. Não tem merenda escolar, e não
é de hoje”, diz uma professora da rede municipal, que prefere manter seu nome
em sigilo.
Na cidade de Bacuri, na Baixada Maranhense, o que chama a
atenção é a rotatividade entre o prefeito eleito José Baldoino da Silva Nery
(PP) e o vice Richard Nixon (PMDB). Desde a eleição em 2012, ambos têm
alternando o assento principal da prefeitura.
Nixon foi preso em maio de 2015, com mais cinco pessoas, sob
acusação de agiotagem. Ele havia assumido a prefeitura após o prefeito Baldoíno
ter sido afastado em março por improbidade administrativa. Nixon foi solto
10 dias depois após expirar o prazo de prisão preventiva. Hoje quem está à
frente da Prefeitura Municipal de Bacuri é novamente Baldoíno.
Fonte: O Imparcial
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