Promotor denuncia caso de canibalismo no Presídio de Pedrinhas
Segundo ação, detentos torturaram e comeram o fígado de
outro preso. Há outros casos sendo investigados, diz promotor Gilberto
Câmara Júnior.
Detentos o Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís (Foto:
Márcio Fernandes/Estadão Conteúdo).
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Um desentendimento entre seis integrantes de uma facção
criminosa acaba com um deles sentenciado à morte. O condenado é torturado,
morto a facadas, esquartejado e tem o fígado assado e servido em um banquete
aos seus algozes. O ritual canibalístico digno de filme de terror ocorreu no
Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, e foi denunciado à Justiça
pelo promotor Gilberto Câmara Júnior, da 12ª Promotoria de Justiça de
Substituição Plena.
Na ação, consta que os fatos aconteceram em dezembro de
2013, na Cela 1, Bloco C do Presídio São Luís 2 (PSL 2), uma das oito casas que
formam o Complexo Penitenciário de Pedrinhas. A unidade abriga presos que
cumprem penas pelos crimes em regime fechado.
O caso macabro só veio à tona porque uma autoridade policial
(não-identificada no processo) que investigava homicídios em presídios
encontrou uma "testemunha-chave" que revelou o crime após ter sido
transferida da unidade prisional.
Presidiário usa espelho para observar visitantes em
Pedrinhas, em São Luís (Foto: Mario Tama/Getty Images)
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Segundo o promotor, a vítima, identificada como Edson Carlos
Mesquita da Silva, teve o corpo dividido em 59 fragmentos. O estado dos restos
mortais ficou tão drástico que a identificação só foi possível por causa de uma
tatuagem.
"Foi reconhecido por seu cunhado, em razão de uma
tatuagem que a vítima possuía cuja inscrição homenageava a sua filha: 'Vitória
razão do meu viver'", explica Câmara Júnior. A identidade foi confirmada
posteriormente por certidão de óbito, laudo de exame cadavérico e laudo de exame
em local de morte violenta.
O Ministério Público aponta como autores do crime Rones
Lopes da Silva, o Rony Boy; Geovane Sousa Palhano, o Bacabal; Enilson Vando
Matos Pereira, o Matias; e Samyro Rocha de Souza, o Satanás. Também
participaram dois homens não-identificados, que constam nos autos como
"Indivíduo X" e Bruno, além de Joelson da Silva Moreira, o Índio, que
já está morto.
Fígado
Executores e vítima eram integrantes de uma mesma facção,
dissidente de outro grupo criminoso. Edson teria se desentendido com Indivíduo
X após ter ofendido Rony Boy, um dos líderes do grupo, que está preso em um
presídio federal.
Por causa da ofensa, Bacabal e Índio amarraram e torturaram
a vítima por horas. Matias interveio e ligou para Rony Boy, que decidiu que
Edson deveria ser morto por Indivíduo X, com quem se desentendeu, e entregue à
direção do presídio.
Detentos dividem cela lotada no presídio de Pedrinhas,
em
São Luís (Foto: Mario Tama/Getty Images)
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Indivíduo X, Bacabal, Índio e Samyro Rocha de Souza, o
Satanás, mataram a vítima a facadas. No dia seguinte, Bacabal decidiu que não
entregaria o corpo à direção e o esquartejaria, livrando-se dos restos mortais.
Após dividirem o corpo em 59 partes, o trio jogou sal no
cadáver para retardar a decomposição da carne e disfarçar o odor, depositando
os restos mortais em sacos plásticos em lixeiras espalhadas.
O fígado foi retirado, assado em fogo na brasa e ingeridos
pelos três, que também enviaram pedaços a outros presidiários. Para evitar
delações, os integrantes da facção se mudaram das celas dos fundos para os
xadrezes da frente, próximo ao portão de acesso.
Lei do Silêncio
Os autores foram acusados por homicídio qualificado por
motivo torpe e por meios que dificultaram a defesa da vítima (vantagem
numérica), tortura e destruição e vilipêndio de cadáver. "Considerando o
imoral inconformismo dos agentes, que diante deste fato, agiram de forma
sórdida e repugnante", justifica Câmara.
O promotor afirma que pelo menos dois outros casos de
canibalismo estão confirmados e têm investigações em andamento. Ele explica que
a "Lei do Silêncio" que impera nos presídios dificulta que crimes do
tipo sejam descobertos pelas autoridades.
"As investigações foram iniciadas com o intuito de
identificar testemunhas que pudessem esclarecer os motivos do fatídico, porém,
a Lei do Silêncio que impera dentro do presídio, cujos detentos se mantém
receosos ante represálias de facções criminosas atuantes dentro do sistema
prisional, é um fator dificultador", explica Câmara Júnior.
ONU
O Complexo Penitenciário de Pedrinhas passou por uma
vistoria do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU)
em agosto deste ano. O relator especial sobre tortura e outros tratamentos ou
penas cruéis, desumanos ou degradantes, Juan Méndez, afirmou haver alto grau de
tortura a presos no país.
No início de 2014,
a ONU pediu que o Brasil apurasse as recentes violações
de direitos humanos e os atos de violência que ocorreram nos presídios do
Maranhão, em especial no Complexo de Pedrinhas. Em comentário sobre a situação,
o Alto-Comissariado de Direitos Humanos da ONU expressou preocupação com
imagens divulgadas pelo jornal "Folha de S.Paulo", que mostraram
presos decapitados dentro da penitenciária.
A ONU acrescentou que ficou "perturbada" com o
relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgado em dezembro de 2013,
que apontou 59 presos foram mortos dentro desse presídio, devido a uma série de
rebeliões e confrontos entre facções criminosas.
Fonte: G1 MA
Por: Clarissa Carramilo e João Ricardo Barbosa
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